Monumento a Ramos de Azevedo
União de dois gênios
Bem vindos a nova matéria do Especial Descubra Sampa. Desta vez iremos mostrar a beleza e os detalhes de um dos mais belos monumentos instalados na Cidade de São Paulo, o Monumento a Ramos de Azevedo, a perfeita união de dois gênios da história Paulistana, o arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo e o Artista e Escultor Galileo Ugo Emendabili, o Homenageado e o Autor da Obra respectivamente.
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Monumento a Ramos de Azevedo |
Os gênios unidos pelo Monumento
Não tem como falar sobre a história Paulistana do Século XX sem citar diversas vezes estes dois personagens e seus gênios criativos, cada um no seu segmento. Primeiro o Homenageado e sua Arte, a arquitetura, a qual através do Escritório Técnico de Arquitetura Ramos de Azevedo e de seus próprios projetos trouxe a São Paulo provinciana dos Séculos XVIII e XIX a face da modernidade, alavancada em cada novo prédio que projetavam a partir do início do Século XX. Dentre as inúmeras contribuições que o Campineiro
Ramos de Azevedo deixou como legado aos Paulistanos, podemos citar o
Theatro Municipal de São Paulo, o
Mercado Municipal de São Paulo (Mercadão), a
Casa das Rosas, o
Edifício Ramos de Azevedo, o
Quartel da Luz (ROTA), a
Pinacoteca de São Paulo (antigo Liceu de Artes e Ofícios), o
Palácio da Justiça de São Paulo, o
Palácio dos Correios e o
Palácio das Indústrias (Museu Catavento), dentre tantas outras, as quais são atualmente "cartões postais" e também pontos turísticos de Sampa. Segundo, o Autor e sua Arte, a escultura, a qual através de várias e importantes criações do artista e arquiteto ítalo-brasileiro
Galileo Ugo Emendabili instaladas na cidade, embelezam regiões e encantam nativos e visitantes, das quais podemos citar o
Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32 (Obelisco do Ibirapuera), o
Monumento a Luiz Pereira Barreto, o
Monumento ao Imigrante Italiano e várias esculturas e conjuntos escultóricos funerários em cemitérios famosos, como o da Consolação e o do Araçá, além do magnifico Monumento que realçamos nesta matéria.
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Monumento a Ramos de Azevedo (vista diagonal) |
Breve história do Monumento
O engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo veio a falecer em Junho de 1928 e todas as suas contribuições para a modernização de São Paulo, com projetos de urbanização inclusive, através das obras realizadas pelo próprio e pela sua empresa de engenharia e arquitetura receberam inúmeras homenagens póstumas, mas uma delas se sobressaiu, o Monumento a Ramos de Azevedo, o qual nasceu da iniciativa de colegas, funcionários e alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo onde Ramos foi o primeiro diretor da Instituição. O Monumento foi totalmente financiado através de doações de admiradores e uma comissão foi formada em 1929 para lançar um concurso para escolha do projeto que iria homenagear o arquiteto. Dentre os projetos inscritos se sobressaiu e foi escolhido, com pequenas mudanças, o projeto do escultor Galileo Emendabili, uma Obra de proporção épica, como nunca fora feita antes em São Paulo. O trabalho de construção iniciou-se em 1929 nas dependências do Liceu de Artes e Ofícios, com a fundição das esculturas em bronze sob supervisão de Giuseppe Rebellato e a cantaria da base, colunas e demais componentes da Obra feitas em granito Itaquera pela Oficina de Cantaria A. Incerpi e Cia (Irmãos Incerpi) no Bom Retiro. A inauguração do Monumento se deu em em 25 de janeiro de 1934, aniversário da Cidade de São Paulo, com a presença de figuras históricas, entre elas o professor Luís Inácio de Anhaia Melo, que fez o discurso de inauguração da Obra, instalada na Avenida Tiradentes, Luz, defronte ao prédio da atual Pinacoteca de São Paulo, o qual foi a principio a Sede do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e seu projeto, para abrigar o Liceu, foi de autoria do próprio homenageado, Ramos de Azevedo.
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Monumento a Ramos de Azevedo (vista frontal) |
Mudança de "endereço"
Em 1967 devido às obras de implantação da linha Norte-Sul do metrô de São Paulo e o alargamento da Avenida Tiradentes com sua ligação ao Vale do Anhangabaú, parte do Corredor Norte-Sul, decidiu-se pela remoção e deslocamento do Monumento para outro endereço, o qual não fora definido quando da decisão. O Monumento foi desmontado e suas partes ficaram "abrigadas" por anos no Jardim da Luz, vizinho à Pinacoteca, onde ia se degradando com o tempo e até teve partes das esculturas furtadas durante o período de quase abandono, até que em 1972, numa iniciativa de José Carlos de Figueiredo Ferraz, prefeito de São Paulo na época, abriu-se uma concorrência para escolha de uma empresa para transportar e remontar o Monumento no novo endereço escolhido, nas dependências da Cidade Universitária de São Paulo (USP), perto da Escola Politécnica da USP, levando simbolicamente o Monumento para junto da Poli, instituição que Ramos de Azevedo também tinha uma ligação, pois foi um dos seus fundadores. A empresa responsável pela remontagem foi a Sergus Engenharia e o trabalho teve início em 1973, contando com a supervisão e acompanhamento do Autor, Emendabili, o qual teve sérios problemas de saúde devido ao desgaste sofrido com a maneira com que a Obra foi tratada e destratada pelas "autoridades". Durante o processo de remontagem e restauro novos problemas ocorreram, pois partes do Monumento foram danificados no desmonte e pelo tempo de abandono da Obra na Luz, além de não haver mão de obra qualificada para os serviços de cantaria necessários para o restauro, arrastando a conclusão até 1975, quando o Monumento foi reinaugurado no dia 17 de Dezembro, instalado na rebatizada Praça Ramos de Azevedo, no final da Avenida Professor Luciano Gualberto, USP - Butantã. A nota triste é que o Autor veio a falecer em Janeiro de 1974 e desta forma Emendabili não pode ver a remontagem da sua Obra concluída e reinaugurada no novo "endereço".
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Monumento a Ramos de Azevedo (vista lateral esquerda) |
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Monumento a Ramos de Azevedo (vista lateral direita) |
O Monumento a Ramos de Azevedo - arquitetura
De proporções monumentais, o conjunto tem quase 24 metros de altura total e sua base em granito Itaquera mede 15,5 por 13 metros. Acima da base de quase 6 metros de altura apoiam-se 8 colunas Dóricas em duas fileiras, também esculpidas em granito e sobre estas uma arquitrave do mesmo material. Compondo o Monumento temos esculturas em bronze na parte frontal e nas laterais e grupos escultóricos em bronze na parte superior da arquitrave e na parte posterior, mesclando duas linguagens estéticas, a Realista, presente na escultura frontal, reproduzindo fielmente as características fisionômicas e corporais do Homenageado, Ramos de Azevedo e a Clássica, a parte criativa do Autor, Emendabili, presente nas demais alegorias escultóricas do Monumento.
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Monumento a Ramos de Azevedo (base - lateral esquerda) |
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Monumento a Ramos de Azevedo (base - lateral direita) |
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Monumento a Ramos de Azevedo (Colunas Dóricas) |
Epígrafes do Monumento a Ramos de Azevedo
Nas laterais da arquitrave e da base do Monumento temos epígrafes (inscrições) talhadas em pedra com alusões ao Homenageado e sua Obra. Em um dos cantos da base temos a inscrição com o nome do Autor e no lado diagonal oposto uma placa em bronze em alusão ao trabalho de fundição do conjunto escultórico. Nota: não foi possível fazer o registro fotográfico de uma das epígrafes da arquitrave devido a sujidade do local da inscrição e pela contraluz solar que havia quando fizemos a sessão de fotos do Monumento. Na epígrafe que faltou o registro está escrito: "ARS LONGA / VITA BREVIS" (A arte é longa, a vida é breve).
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Monumento a Ramos de Azevedo (inscrição 1) "AGE QVOD AGIS" |
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Monumento a Ramos de Azevedo (inscrição 2) "MONVMENTVM HOC / AERE POPVLI COLLATO / AMICI COLEGAEQVE / POSVERE / ANNO DOMINI MCMXXXIV" |
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Monumento a Ramos de Azevedo (inscrição 3) "FRANCISCO DE PAVLA RAMOS DE AZEVEDO / QUI AB ANNO MDCCCLXXIX / AD MCMXXVIII VSQUE / VIVIDA INGENI ASCIE / INSTRAVRANDAE PAVLIANAE METROPOLI / AD ARCHITECTONICAS RATIONES / STRENVE AD LABORAVIT" |
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Monumento a Ramos de Azevedo (placa da fundição) |
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Monumento a Ramos de Azevedo (Assinatura do Autor da Obra) |
O Monumento a Ramos de Azevedo - As Esculturas
As esculturas reluzem a parte dramática e o esplendor da Obra, as quais detalhamos abaixo, sem antes deixar de ressaltar toda a beleza plástica do trabalho escultórico de Emendabili, a qual fizemos questão de realçar com algumas fotos em close-up que mostram a apurada técnica e a referência da escola Clássica europeia que o grande artista ítalo-brasileiro aplicou nas esculturas, hora nos semblantes das figuras, na perfeição plástica da anatomia e nos mínimos detalhes das indumentárias e adereços das esculturas, uma verdadeira aula da mais pura e Clássica Arte Plástica escultórica.
Ramos de Azevedo
A Escultura Ramos de Azevedo, na parte frontal da base do Monumento, representa em estilo Realista o Homenageado. A Obra nos mostra Azevedo sentado, com uma planta arquitetônica sobre o colo e o olhar altivo, como a vislumbrar o futuro e as obras ainda a realizar.
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Escultura Ramos de Azevedo - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Escultura Ramos de Azevedo - Monumento a Ramos de Azevedo (close-up) |
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Escultura Ramos de Azevedo - Monumento a Ramos de Azevedo (detalhes) |
O Progresso e a Vitória
O conjunto escultórico da Obra, que encima a arquitrave, é a alegoria mais emblemática e apoteótica do Monumento e a mais criativa também, traduzindo em bronze a genialidade de Emendabili. Composta por um cavalo alado, montado por um Gênio, o qual segura em uma das mãos um globo encimado pela figura da Deusa Nice (Niké), os quais representam o Progresso (o voo rumo ao futuro e a criatividade do gênio) e a Vitória (Niké), as obras realizadas.
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O Progresso e a Vitória - Monumento a Ramos de Azevedo |
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O Progresso (detalhes) - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Escultura O Gênio (close-up) - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Escultura Cavalo Alado (close-up) - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Escultura Deusa Nice (Vitória) (close-up) - Monumento a Ramos de Azevedo |
As Musas
As quatro esculturas das Musas que ladeiam a base da Obra, duas de cada lado, representam os conhecimentos criativos e técnicos que Azevedo empregava em seus projetos, as quais personificam a Musa da Pintura, a Musa da Engenharia, a Musa da Escultura e a Musa da Arquitetura. Notem a plástica Clássica adotada por Emendabili nestas peças, verdadeiros tesouros.
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Musas da Arquitetura e da Pintura - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musas da Engenharia e da Escultura - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musa da Arquitetura - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musa da Arquitetura - Monumento a Ramos de Azevedo (detalhes) |
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Musa da Pintura - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musa da Pintura - Monumento a Ramos de Azevedo (detalhes) |
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Musa da Engenharia - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musa da Engenharia - Monumento a Ramos de Azevedo (detalhes) |
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Musa da Escultura - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Musa da Escultura - Monumento a Ramos de Azevedo (detalhes) |
Os Construtores
O grupo escultórico instalado na parte posterior da Obra é formado por um grupo de fortes figuras masculinas que nos passam a clara mensagem do esforço conjunto do trabalho empregado na realização das obras e da modernização de São Paulo, os quais, além de "impulsionar" o próprio Monumento, também carregam o Brasão da Cidade com o Lema: NON DUCOR, DUCO (Não sou conduzido, conduzo).
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Os Construtores - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Os Construtores - Monumento a Ramos de Azevedo (vista posterior) |
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Os Construtores (detalhe) - Monumento a Ramos de Azevedo |
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Os Construtores - Brasão de São Paulo - Monumento a Ramos de Azevedo |
Curiosidades
1) A saga e infeliz "mudança de endereço" que o Monumento sofreu, não é novidade na história de São Paulo, onde outros monumentos e esculturas tiveram a mesma "falta de sorte", ou seria falta de compromisso com a
Cultura por parte das ditas "autoridades"? (E que ocorre nos dias atuais também). Dentre alguns exemplos de "mudanças" podemos citar o antigo Monumento a
José Bonifácio, o Moço, do qual só sobrou a escultura, atualmente abrigada nas dependências da Faculdade de Direito da USP. Outro exemplo é o Monumento a Olavo Bilac, o qual foi desmontado e totalmente desconfigurado, sendo que uma das esculturas do Monumento,
Idílio (Beijo Eterno), hoje está instalada defronte a Faculdade de Direito também, após "frequentar" diversos endereços pela cidade. A
Escultura Laocoonte e seus filhos,
Escultura O Menino e o Catavento e a
Escultura São Paulo Tecelão são outros exemplos de "Arte Nômade" de Sampa, infelizmente.
2) Duas réplicas das Musas da Escultura e da Engenharia que foram resgatadas (expropriadas pelo Estado) de uma coleção particular, foram alocadas no
Monumento às Musas da Escultura e da Engenharia instalado na Praça Luis Carlos Paraná, Itaim Bibi, cuja criação foi justamente para dar exposição pública às esculturas.
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Monumento a Ramos de Azevedo (fotocomposição) |
Agradecimentos
Agradecemos publicamente o amigo, Sr. Paulo Emendabili Souza Barros de Carvalhosa, neto do Autor do Monumento e especialmente à sua mãe, a Dra. Fiammetta Emendabili Barros de Carvalhosa, filha de Galileo Emendabili, curadora e detentora dos Direitos Autorais das Obras do Artista, pela generosidade em fornecer ao editor e fotógrafo do Descubra Sampa a permissão de fotografar e divulgar esta importante Obra para a história da Cidade de São Paulo, a qual, como já dito, exalta as realizações do Gênio da arquitetura Paulistana Ramos de Azevedo e o Gênio do próprio Autor da Obra, Galileo Ugo Emendabili, escultor e arquiteto que tanto contribuiu para a Cultura e a Arte Paulistana.
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Monumento a Ramos de Azevedo (paisagem) |
Quando instalado na Avenida Tiradentes no passado, Azevedo (a escultura) "avistava" parte da própria avenida em direção ao Vale do Anhangabaú, atualmente ele "avista" a Avenida Prof. Luciano Gualberto e o Prédio do Biênio na USP, conforme ilustra a foto (obs: o Biênio não aparece na foto e está localizado à esquerda).
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Até breve... Por Sergio Brisola / Editor e Fotógrafo do Site Descubra Sampa.